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sábado, 27 de novembro de 2010

Uiiii... Belisquem-me, belisquem-me que eu não estou em mim!

                Nem tenho reacção, depois de receber uma mensagem destas no telemóvel. Não é que no meio das frases simplesmente cordiais apareceu um “Para mim, és a pessoa mais linda do mundo. Admiro-te mesmo!”… Estarei a ler bem? Ele está bem? Só se ele estiver a reflectir sobre a paciência que eu tenho tido, é que só pode… É de louvar! E pensando bem, nem de longe nem de perto sou a melhor pessoa do mundo (espero que o “linda” seja a referir-se ao interior), nem a melhor pessoa que eu mesma poderia ser, mas com ele tenho tentando ultrapassar-me a mim mesma, de verdade. Nunca fiz absolutamente nada para o magoar, nada para o prejudicar, nem nas minhas intenções ou pensamentos e as minhas expressões sempre mostraram o que eu sinto (as palavras é que às vezes não saiam).

                A reflectir nisso e no seguimento do pensamento “eu não mereço estar a passar por isto” lá dou por mim a pensar no outro lado da moeda. Será que já fui injusta com alguém e por isso esteja a ser punida? Tentando abster-me de todas as desculpas que poderia dar a mim mesma como motivo para ter magoado alguém, relembro situações em que tive plena consciência que fui má, aliás, continuo a sê-lo por vezes.

                Ponto 1:
                A minha mãe. Nunca tenho más intenções, mas muitas vezes não tenho paciência, e acabo por falar de uma forma bruta (mesmo sem chegar a extremos, sei que às vezes só a minha expressão já não deve ser boa de se ver), porque simplesmente era a hora errada, porque acordei com os pés de fora, ou porque insiste em paparicar-me com algumas coisas (e eu detesto).
Já constatei o facto de que me sinto incomodada quando sinto obrigação de agradecer alguma coisa à minha mãe. Quando sou eu que tomo a iniciativa de pedir alguma coisa, tudo o.k., mas quando ela se lembra de me dizer “olha, amanha como vou ao hospital aproveito para entregar lá a tua folha de isenção para não pagares aquela urgência, assim não tens de lá ir de propósito!”, fico azul. Se fosse qualquer outra pessoa, não resistiria em esbracejar um “obrigada” e ele tinha mesmo toda a razão para existir, mas eu não me sinto à vontade com esse tipo de afinidades com a minha família, apesar de isso existir pontualmente entre eles, eu não partilho dessa prática. Eles nunca me habituaram a isso, desde miúda que a minha opinião nem considerada opinião era. Tudo o que era praticado com eles era sempre em função deles, nunca sobre o que eu gostava de fazer. Nunca sequer tiveram curiosidade em saber que tipo de pessoa eu me estava a tornar, como se fosse um dado adquirido que eu seria um projecto standard até fazer 18 anos, com as acumuladas birras, teimosias e infantilidades da idade e nada mais.
Eles não sabem quem eu sou e eu também nunca fiz questão de dizer, já que sempre que se dirigiam a mim, era para dizer tudo, menos aquilo que eu precisava ouvir. Então tomei a partir daí a atitude de “entra-me a cem, sai-me a duzentos”. Se não ajudam, ao menos não atrapalhem! Eu sempre quis fazer as coisas à minha maneira, sem ter de dar satisfações a ninguém, por isso não gosto que se metam na minha vida. Isso tornou-me, auto-suficiente de modo a deixar de ter gosto em lhes agradar, em ter em conta a opinião deles, em ter algo para lhes contar ou momentos para partilhar. E na verdade até lhes agradeço, são menos opiniões a ter de ponderar quando necessito de tomar decisões e ensinou-me a conseguis abster-me de outras situações que me possam surgir na vida e que me perturbem.
Pronto, vem daí o meu incómodo em fazer pedidos, em receber agrados, ou em agradecer. Mas nada disso me dá o direito de ser estúpida, cruel ou insensível quando a intenção que vem é boa, e apesar de o orgulho ser o meu pecado capital, eu não me orgulho dele e sei que o devia anular se de facto me quero considerar uma pessoa justa. É complicado gerir a situação, mas eu juro que penso sobre isso e em muitos momentos tento ser mais agradável, pelo menos com aqueles que ainda tentam ser agradáveis comigo.

Ponto 2:
Acontece que com aquelas pessoas que me rodeiam diariamente, amigos, colegas ou conhecidos, nem sempre tenho o melhor feitio. No trabalho, não tenho papas na língua e sou mesmo muito crítica – qual foi a parte de “isto não é para deixar por aqui espalhado” que não percebeste? – mesmo à bruta. E eu sei que se falasse assim para mim própria me passava lol. E sei também que algumas pessoas ficam magoadas comigo, mesmo sabendo que eu digo aquilo assim, mas nem penso mais no assunto e se for preciso da próxima vez que passar, já estou a dizer uma palhaçada qualquer. Já na minha vida social sei que às vezes acontece assumir que as pessoa deviam entender quando estou em dias bons ou menos bons e comportarem-se de acordo com isso e quando tal não acontece às vezes não dá para ter uma conversa que valha a pena (vá lá que as crises de besta quadrada desse género não me atacam muitas vezes, pelo menos, não com os meus amigos, se bem que o Pimpolho levou com o tau no outro dia).

Ponto 3:
Tenho a certeza que existiram momentos em que fiz coisas que não deveria ter feito com pessoas de quem gostava muito, numa de vingança a outras coisas que me fizeram a mim, mas que não justificam a má atitude. Nunca o fiz com o propósito de as magoar, mas sim com o propósito de as deixar de ter em conta, de lhes deixar de lhes dar conhecimento, de lhes perder o respeito, de ser egoísta e pensar só em mim e fazer aquilo que bem me apetecia. Algumas nem sequer tiveram noção dessas atitudes em concreto, mas sentiram na pele a minha atitude de indiferença em geral e só por eu saber disso, ter consciência da minha atitude, já é suficiente para eu ter faltado ao respeito a mim mesma e ter perdido a chance de fazer merecer e valer a pena a oportunidade que me foi dada.

Ponto 4:
E aquelas pessoas que posso ter magoado por efeito colateral, sem elas terem culpa nenhuma? Como por exemplo a esposa do Babe. Eu não sei se ela sabe da minha existência ou não, mas eu sei da dela e acredito que a posição dela não seja fácil. E que não seja fácil ela imaginar que outra pessoa possa estar a quer “ficar” com aquilo que ela quer para ela. E acredito que noutra situação ela até poderia ser alguém com quem eu simpatizasse ou até mesmo já me passou pela cabeça que ela possa ser alguma das autoras dos blogs que leio e que admiro.
Com blog ou sem blog eu já a admiro por “afinidade”, partilhamos o mesmo objecto de desejo e só por isso já tenho a certeza que é uma mulher de bom gosto. Nunca ele mencionou nenhuma falha dela ou teceu qualquer tipo de comentário evasivo sobre a relação com ela e eu aprecio isso nele, quer dizer que lhe tem respeito e isso é bonito. Leva-me a querer portanto, que se ele lhe tem respeito é porque ela se sabe dar ao respeito. Admiro-a também pela capacidade de manter uma relação com ele (que tem um feitio de bradar aos céus quando quer) por tantos anos e que tenha tido um filho como fruto dessa união. Ela tem todo o mérito e todo o meu respeito. Já disse ao Babe que é a única mulher para quem eu realmente admitia perde-lo, todas as outras seria um insulto para mim.
A atitude que eu posso assumir para com ela é de respeito solidariedade e abstenção. Por mim esta situação não existia e lamento que as condições sejam estas, mas com certeza é tão desagradável para mim como para ela… ultrapassa-me. Espero que ela não tenha consciência de que existe alguém na expectativa de manter uma relação com o Babe, porque o que os olhos não vêem o coração não sente e acho que seria desnecessário e não iria facilitar, só tornaria a situação mais desagradável para ela e consequentemente para ambos. Para mim, antes de eu existir, eles já tinham um problema em mãos que só aos dois diz respeito, se se amam e se conseguem manter uma relação saudável e feliz para os dois e só então e se for o caso de eles decidirem separar-se, é que se justifica eu ter um papel, não em substituição do dela, mas o meu. Não quero que o meu lugar seja a ocupar o lugar de outra pessoa, quero ter o MEU lugar e ela terá sempre o lugar dela, aquele que ambos decidirão que será. Além de tudo, ela não saber que eu existo seria um alívio, não teria o peso na consciência que o meu desejo afecta o bem-estar de alguém a quem eu não desejo mal nenhum.

Lamento todas estas situações, tenho consciência delas e batalho comigo própria todos os dias para as melhorar e me tornar numa pessoa mais merecedora das coisas boas da vida. Vou tentar sempre mais e melhor até ao fim da minha vida. Quero empenhar-me mesmo nisso. Quero fazer valer a pena!

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