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sábado, 5 de fevereiro de 2011

Truques de Mulher


A Girassol anda a ler o novo livro da Margarida Rebelo Pinto e hoje, na hora do almoço, disse para eu ler um dos trechos que, para já, ela mais tinha gostado no livro, que é o seguinte:


"TRUQUES DE MULHER

Fala pouco, nunca alto, fala devagar e com cuidado, fala menos do teu coração do que gostarias porque nunca sabes se tu, ou ele, te mentem. Mantém serenas as tuas palavras e nunca murmures o que queres dizer. Mostra o que vales com o que dizes, sem nunca te comprometeres. Sê fria e fugidia como uma gota de chuva, bela e fresca como uma flor de manhã, sê quem sonhas e quem desejas, mas guarda os teus segredos na despensa como um cesto de cerejas.
Fala pouco, nunca de ti, do teu passado e dos teus medos. Fala dos sonhos e dos desejos, mas cala os mais ousados e os mais perfeitos. Não partilhes lágrimas nem tristezas, são coisas só tuas que assustam os homens. Nunca mostres medo de perder o teu amado, nunca lhe digas o quanto lhe queres.
Usa a sensatez como escudo, guarda a tristeza numa caixa. Não abuses da sinceridade nem te escondas na verdade. Segue sempre o teu caminho e não olhes para trás. Quem hesita cansa-se mais e esquece os seus objectivos. Sê dura com os outros na medida em que eles são duros contigo. E se sentires por perto a faca de uma traição, ataca primeiro o outro coração. Nunca tenhas medo dos homens, mas lembra-te que eles podem ter medo de ti. Tenta ouvi-los quando eles não falam, deixa-lhes espaço para respirar. Não queiras tudo de uma vez, não peças o que não te podem dar.
Mostra calma e segurança, mas não vás dois passos à frente. Aprende a ficar quieta quando o mundo te pede que te movas. Aprende a calar se queres que se calem. Aprende a ouvir nos gestos quem te quer bem quando te abraça e quem te quer mal quando te beija.
Ouve a voz do teu coração, mas não deixes mais ninguém ouvir. Lê muita poesia, mas evita os livros de auto-ajuda, só te vão dizer coisas que já sabes. Dorme muito e come bem, trata da tua pele como se fosse uma jóia e da tua alma como se fosse o teu coração. Nunca te esqueças de arrumar as gavetas das tuas memórias, antes de deixar entrar alguém na tua vida.
Fala pouco, devagar, para teres a certeza de que serás ouvida. Fala de tudo e de nada, não te cales se fores interrompida. Fala do mundo e do tempo, pouco dos outros e nada de ti. Elogia quem te faz bem, afasta do teu caminho quem te quis fazer mal. Lembra-te de que o orgulho tem mais força do que lágrimas e suspiros. Guarda as dores dentro do peito, ou transforma-as em risos.
Sê sensata e delicada, tranquila e generosa. Sê discreta e calada, sê bonita e graciosa. Caminha como quem plana, senta-te como uma princesa. Sai antes do tempo, para que nunca se cansem de ti. Volta quando não te esperam, fica apenas quando te pedem. Ri-te das piadas dos outros, mesmo que não tenham graça. Trata bem quem não conheces, desconfia de quem te quer bem de repente. Fica atenta aos sinais, nunca baixes a guarda; pede conselhos aos velhos, mas não faças o que eles dizem.
Fala baixo, mesmo quando é contigo e ninguém te pode ouvir. Fala com o teu coração, mas não esperes que ele te diga sempre o que queres ouvir.
E quando não souberes que caminho deves seguir, descansa por um momento e pede o que queres ver, ouvir e sentir.
Vais ver que consegues, se o mundo te ouvir."

Brutal! A Girassol adorou e eu também.
Para mim, esta é a definição de uma mulher forte, que sabe estar, independente, que sabe o que quer e que sabe ser feliz. É assim que eu quero ser, é assim que eu tento ser a cada dia, fazendo a receita um pouco à minha maneira, de forma mais personalizada e não banal, segundo as minhas regras (um pouco mais disto, menos daquilo, mas o essencial está lá).
Espero nunca me perder do meu caminho, mesmo quando os outros me trocam as voltas… Nunca perder a sensatez de discernir o que está certo ou errado, o que é pouco ou demais para mim… Saber quando é essencial ficar e quando se torna urgente abandonar. Como já dizia William Shakespeare e com muita razão “Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o que, com frequência, poderíamos ganhar, por simples medo de arriscar.
Sinto que tempos difíceis de avizinham! Se não forem difíceis, pelo menos serão decisivos, tudo dependerá da sensatez de cada uma das pessoas envolvidas… Da coragem!
Não tenho medo do que possa vir, sei que sou capaz de sobreviver à dose… Agora não sei é se fecho os olhos até lá e me deixo levar, aproveitando o momento de tranquilidade, ou se os abro bem para que nada me escape. Não sei se posso confiar, ou se alimento suspeitas e dúvidas que me atormentam e se arrastam sem serem esclarecidas até hoje.
Claro que o melhor é estar atenta, mas essa ansiedade e esse estado de alerta fazem-me mal, cansam-me a alma e o espírito. Não deixam espaço para desfrutar dos bons sentimentos que eclodem do meu coração, destroem a pureza da paixão genuína… Sinto-me uma “paixonicida”… Estou a poda-la tão rente que tenho medo que murche.

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